Abaixo, a reportagem que saiu na Revista Istoé, com participação de uma das intrutoras da Escola, Juliana Camargo, de SP e uma das alunas, a médica Suzikelli Lisboa Souza:
Aprendendo a ser mulher
Cursos que ensinam a recuperar a essência da feminilidade viram moda e apontam para um novo comportamento feminino
Débora RubinDEUSA
Claudya Toledo ensina as alunas a perderem o medo de ser fêmeas
Cinquenta mulheres marcham, num ritmo cadenciado e charmoso, em uma manhã de sol dentro de uma reserva ecológica próxima a São Paulo. Sob a coordenação de uma líder, reproduzem em alto e bom tom as frases da capitã: “Eu sou rica e poderosa! Eu sou doce e carinhosa! Eu sou fle-xí-veeeel!” De longe, parece um bando de loucas. De perto, uma das práticas de um workshop cujo objetivo é recuperar a feminilidade perdida. O seminário “Deusas”, oferecido pela agência A2 Encontros, inclui práticas de meditação, exercícios de cura física com uso de argilas sagradas e banhos de ofurô e ainda palestras sobre autoestima. A mestra e dona da agência, Claudya Toledo, traz em sua fala os ensinamentos trazidos de suas viagens à Índia. Cinco mil mulheres já participaram do seminário em São Paulo e no Rio de Janeiro. Executivas, médicas, advogadas, publicitárias e empresárias investem R$ 1.800 pelo intensivão. A maioria, todas com mais de 30 anos, chega lá porque se inscreveu na agência para achar um namorado. E ouvem de Claudya que, antes de encontrar um homem, é preciso reencontrar a mulher que há dentro delas. “As mulheres estão fortes, poderosas e mentais, o que é ótimo”, explica. “O problema é que se masculinizaram tanto que temem ser fêmeas. Nosso trabalho é ajudar a recuperar a face oculta da deusa.”
O discurso da masculinização da mulher está na boca de todas as professoras do feminino. O gatilho desse processo, dizem, foi a entrada no mercado de trabalho. Hoje, décadas depois do feminismo, ainda buscam voz para denunciar que ganham menos, sofrem mais preconceito e são menos reconhecidas. “Só que não precisamos ser tão competitivas. Conseguiríamos muito mais sendo simplesmente femininas”, acredita a professora de ioga Érica Sitta, que tem uma escola em Bauru (SP) na qual oferece cursos de danças sensuais, strip-tease e aulas de maquiagem sagrada inspirada em tradições hindus. “Trabalhamos também a cooperação, mostramos que é muito melhor quando as mulheres se ajudam.”
O discurso da masculinização da mulher está na boca de todas as professoras do feminino. O gatilho desse processo, dizem, foi a entrada no mercado de trabalho. Hoje, décadas depois do feminismo, ainda buscam voz para denunciar que ganham menos, sofrem mais preconceito e são menos reconhecidas. “Só que não precisamos ser tão competitivas. Conseguiríamos muito mais sendo simplesmente femininas”, acredita a professora de ioga Érica Sitta, que tem uma escola em Bauru (SP) na qual oferece cursos de danças sensuais, strip-tease e aulas de maquiagem sagrada inspirada em tradições hindus. “Trabalhamos também a cooperação, mostramos que é muito melhor quando as mulheres se ajudam.”
AUTOESTIMA
Aulas de danças, strip-tease e maquiagem sagrada
são algumas das técnicas usadas por Érica Sitta
A médica Suzikelli Lisboa Souza, 39 anos, de Campinas, mudou não só sua postura pessoal como a profissional após participar do seminário “Deusas”. Filha de militar, ouviu a vida toda que ela tinha que ser forte, independente e bem-sucedida. Fez por merecer e tornou-se uma endocrinologista de sucesso. Mas estava infeliz. “Eu era um sargentão”, recorda. “Hoje, tenho uma vida equilibrada e tranquila.” O impacto foi tão grande que o atendimento às suas pacientes mudou completamente. Agora, Suzikelli conduz um estudo com as participantes do seminário para fazer uma comparação dos hormônios antes e depois do evento.
Quase todos os cursos para ser mulher bebem de fontes orientais ou tradições ancestrais. No Escola do Feminino, as mestras viajaram para lugares remotos da Ásia e Europa e trouxeram tradições antigas que foram adaptadas para os tempos atuais. Características das gueixas japonesas, das gueteras gregas, das indianas devadassis e das amazonas da Sibéria permeiam os ensinamentos dessas mulheres de São Paulo. No workshop “Sensualidade à flor da pele”, a orientadora Juliana Camargo ensina que ser sensual não tem nada de errado. “O tema virou um tabu e a mulher só procura ajuda nesse sentido quando quer conquistar alguém”, lamenta. “Ensinamos que ser sensual é o natural da mulher e que essa busca não deve ser focada no outro.”
Quase todos os cursos para ser mulher bebem de fontes orientais ou tradições ancestrais. No Escola do Feminino, as mestras viajaram para lugares remotos da Ásia e Europa e trouxeram tradições antigas que foram adaptadas para os tempos atuais. Características das gueixas japonesas, das gueteras gregas, das indianas devadassis e das amazonas da Sibéria permeiam os ensinamentos dessas mulheres de São Paulo. No workshop “Sensualidade à flor da pele”, a orientadora Juliana Camargo ensina que ser sensual não tem nada de errado. “O tema virou um tabu e a mulher só procura ajuda nesse sentido quando quer conquistar alguém”, lamenta. “Ensinamos que ser sensual é o natural da mulher e que essa busca não deve ser focada no outro.”
NO PONTO
Antes do curso, a médica Suzikelli Souza se considerava
um “sargentão”. Hoje tem uma vida mais equilibrada
Além dos cursos específicos do feminino, outras áreas de conhecimento começam a atender essa demanda. Existem especialistas em florais, em programação neurolinguística (PNL) e até coaching focadas em mulheres. Melissa Setubal, de Vitória (ES), oferece algo pouco explorado no Brasil: o coaching de saúde integrativa. Ela usa os princípios da técnica de desenvolvimento pessoal típica do mundo dos negócios só que voltados para a saúde da mulher. No caso de Melissa, suas pacientes a procuram com queixas de problemas como ovário policístico, tireoide desregulada, TPM e infertilidade. Além de ajustes na alimentação, a especialista pede que elas olhem para dentro e busquem o que se perdeu na essência de mulher. “Algumas chegam reclamando que não podem ser uma mulher de fases, que querem ser estáveis como os homens”, conta a coach, que mostra a elas como tirar vantagens de cada etapa do ciclo menstrual.
Para a psicóloga e instrutora de PNL, Rebeca Fischer, essa busca mostra que as mulheres estão cansadas de brigar por direitos iguais nos já ultrapassados moldes feministas. “Para conquistar seu lugar, elas copiaram os homens só nas características patológicas, como a agressividade. E agora não querem mais esse caminho”, diz. A terapeuta holística Claudia de Castro Alves, do Instituto Love Creation, na Alemanha, acredita que o mundo está em desequilíbrio e que é o momento de as mulheres mostrarem que o poder pode ser suave. E o homem, como fica diante dessa movimentação? “Quando a mulher encontrar seu novo lugar, eles automaticamente serão obrigados a repensar o seu”, protefiza Claudia.
Para a psicóloga e instrutora de PNL, Rebeca Fischer, essa busca mostra que as mulheres estão cansadas de brigar por direitos iguais nos já ultrapassados moldes feministas. “Para conquistar seu lugar, elas copiaram os homens só nas características patológicas, como a agressividade. E agora não querem mais esse caminho”, diz. A terapeuta holística Claudia de Castro Alves, do Instituto Love Creation, na Alemanha, acredita que o mundo está em desequilíbrio e que é o momento de as mulheres mostrarem que o poder pode ser suave. E o homem, como fica diante dessa movimentação? “Quando a mulher encontrar seu novo lugar, eles automaticamente serão obrigados a repensar o seu”, protefiza Claudia.
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